Brasil pode perder mercado na Ásia em meio à disputa global por terras-raras
A escalada da guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos acendeu um alerta para o risco de perda de espaço do Brasil no mercado asiático, especialmente em setores estratégicos como o de terras-raras, essenciais para a indústria tecnológica global.
O Brasil divide hoje com a Rússia o segundo lugar no ranking mundial de reservas de terras-raras, atrás apenas da China. No entanto, a disputa comercial com os EUA tem colocado em xeque as exportações brasileiras, principalmente em direção ao mercado asiático, onde a influência americana ainda exerce forte pressão geopolítica.
A importância das terras-raras
Terras-raras são compostos e metais fundamentais para a produção de tecnologias de ponta, utilizados em cerâmicas, catalisadores, ligas metálicas, polimento de superfícies e componentes eletrônicos - como computadores, smartphones, veículos elétricos e máquinas industriais de alta precisão.
Atualmente, o Brasil se destaca como um dos principais fornecedores para os Estados Unidos, tendo papel relevante em diversos minerais estratégicos. Veja alguns exemplos:
- Nióbio: Os EUA dependem integralmente das importações desse metal, sendo o Brasil seu principal fornecedor mundial.
- Amianto: 91% do amianto consumido nos EUA vêm do Brasil, junto com a Rússia.
- Pedras Dimensionais: Brasil representa 21% do total importado pelos americanos, ao lado de China, Itália e Turquia.
- Alumina: O país abastece 68% das exportações que os EUA recebem desse insumo.
- Silício: O Brasil figura entre os quatro principais fornecedores, com uma fatia de 38% das exportações para os EUA.
Riscos no mercado asiático
A crescente tensão comercial e a adoção de tarifas mais agressivas pelos Estados Unidos podem impactar diretamente a competitividade brasileira em outros mercados, como o asiático. A pressão americana por acordos bilaterais preferenciais pode, inclusive, dificultar o acesso de produtos brasileiros em países com forte alinhamento estratégico com os EUA.
Além disso, barreiras comerciais impostas recentemente pela Venezuela e a reorganização de compras pela Argentina, que passou a ampliar suas aquisições de insumos e commodities brasileiras, reforçam a necessidade de uma política comercial brasileira mais estratégica e coordenada.
Oportunidade e desafio
Apesar dos riscos, o cenário também representa uma oportunidade de reposicionamento. O Brasil pode ampliar sua presença no mercado asiático via acordos diretos com países do Sudeste Asiático, buscando diversificar suas exportações e reduzir a dependência de compradores estratégicos como os EUA.
Contudo, isso exige investimento em rastreabilidade, certificações internacionais, e principalmente, um alinhamento diplomático e logístico eficiente, que garanta previsibilidade e segurança para compradores estrangeiros.