Exigências ambientais devem redefinir as exportações para União Européia
A partir de 2026, exportar produtos para o mercado internacional, especialmente para a União Europeia, deixará de ser apenas uma questão de qualidade, preço e prazo. Cada vez mais, empresas e produtores precisarão apresentar um verdadeiro “passaporte verde”, comprovando que suas mercadorias são oriundas de cadeias produtivas livres de desmatamento e alinhadas a critérios ambientais e sociais rigorosos.
Essa mudança representa uma transformação estrutural no comércio exterior global e deve impactar diretamente exportadores brasileiros, sobretudo dos setores agrícola, florestal, agroindustrial e de commodities.
O que os compradores internacionais vão exigir
As novas regras vão muito além de certificações genéricas. Na prática, cada lote exportado deverá apresentar rastreabilidade completa e documentação capaz de comprovar a regularidade ambiental da produção.
Entre as principais exigências estão:
- Coordenadas geográficas exatas da área de produção;
- Comprovação de que não houve desmatamento após a data de corte definida em lei;
- Documentação que demonstre o cumprimento da legislação ambiental e social local.
Isso significa que o produto precisará carregar um histórico ambiental limpo, desde a origem da matéria-prima até o embarque para exportação.
Pressão global por cadeias livres de desmatamento
Embora a União Europeia esteja na linha de frente dessas exigências, a tendência é global. Relatórios internacionais apontam que cerca de 90% da perda de florestas no mundo está associada à expansão agrícola, o que tem intensificado a pressão sobre governos, empresas e cadeias de fornecimento.
Como resultado, grandes compradores internacionais, fundos de investimento e indústrias multinacionais estão revisando seus critérios de compra, incorporando riscos ambientais e sociais às decisões comerciais.
Adesão ainda é baixa e acende sinal de alerta
Apesar da proximidade das novas regras, os dados mais recentes indicam que a adaptação ainda é lenta e preocupante.
O Global Forests Report 2024, que avaliou 881 empresas, revelou que:
- Apenas 445 demonstraram algum avanço rumo a cadeias livres de desmatamento;
- Dentre essas, somente 64 possuem ao menos uma operação totalmente alinhada a esse objetivo.
Já o estudo Forest 500 / Global Canopy 2025 mostrou um cenário ainda mais crítico:
- Entre as 500 empresas mais influentes do mundo, apenas 3% possuem compromissos ambientais sólidos e efetivamente implementados.
O impacto recai sobre o elo mais frágil da cadeia
Esse atraso no topo da cadeia produtiva tende a gerar um efeito cascata. Na prática, a pressão está se deslocando para o produtor, que passa a ser diretamente cobrado por informações, documentos e comprovações ambientais.
Cada vez mais, grandes compradores e indústrias estão exigindo:
- Cadastro Ambiental Rural (CAR) regularizado;
- Ausência de embargos ambientais;
- Não sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas;
- Comprovação de boas práticas trabalhistas;
- Documentação completa sobre a origem da produção.
Quem não se adequar pode perder mercado
O recado do mercado internacional é claro: quem não conseguir comprovar conformidade ambiental ficará para trás. Empresas e produtores que não atenderem às exigências correm o risco de:
- Perder contratos com compradores estratégicos;
- Ser excluídos de cadeias globais de fornecimento;
- Ser direcionados a mercados menos exigentes, com menor valor agregado e margens reduzidas.
Por outro lado, quem se antecipar, investir em rastreabilidade, regularização ambiental e transparência terá vantagem competitiva, acesso a mercados premium e maior resiliência frente às mudanças regulatórias globais.