Justiça suspende licitação do CLDM do Porto de Santos
A Justiça Federal suspendeu, de forma liminar, a licitação conduzida pela Autoridade Portuária de Santos (APS) para a implantação do Condomínio Logístico da Margem Direita (CLDM), projeto estratégico previsto para a área do Porto de Santos. A decisão atendeu a um pedido da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec) e permanecerá válida até o julgamento final do mérito, podendo ainda ser revertida por meio de recurso.
A suspensão representa mais um capítulo no debate sobre o uso de áreas portuárias estratégicas e seus impactos na capacidade operacional e na competitividade do maior porto da América Latina.
Entenda os principais argumentos da Abratec
A Abratec questiona a destinação de um terreno greenfield, com aproximadamente 242 mil metros quadrados, localizado na Margem Direita do porto. De acordo com o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ), a área é classificada como destinada às operações portuárias, mas foi incluída no projeto do CLDM para atividades consideradas não operacionais, com cessão prevista por 20 anos.
Segundo a associação, essa área é considerada estratégica para o crescimento da movimentação de contêineres, uma vez que corresponde a:
- Cerca de 50% da área do Terminal BTP;
- Aproximadamente 38% da área projetada do futuro Tecon Santos 10.
Para a Abratec, a destinação proposta compromete diretamente a expansão da infraestrutura portuária voltada à conteinerização, segmento que concentra parte relevante do comércio exterior brasileiro.
Questionamentos sobre transparência e concorrência
Outro ponto central da ação envolve supostas falhas no processo licitatório. A Abratec afirma que o certame apresentou cronograma excessivamente apertado, o que teria limitado a competitividade e resultado em apenas uma proposta válida, apresentada pelo Consórcio Portlog, posteriormente declarado vencedor.
O valor ofertado de R$ 1,20 por metro quadrado ao mês foi classificado pela entidade como irrisório, especialmente considerando a localização estratégica da área dentro do complexo portuário santista.
Além disso, a associação sustenta que a licitação teria violado a Lei de Liberdade Econômica, ao impor restrições que teriam dificultado ou impedido a participação de operadores portuários no processo.
Detalhes do projeto do Condomínio Logístico
O projeto do CLDM prevê a implantação de estruturas logísticas tanto em Santos quanto no Guarujá, com foco em apoio ao fluxo de caminhões e serviços vinculados à movimentação de cargas e contêineres.
Área prevista em Santos
- 242 mil m² no total, localizados na Avenida Augusto Barata;
- Truck Center: 121 mil m², com no mínimo 460 vagas para caminhões;
- Serviços para cargas e contêineres: 121 mil m².
Área prevista no Guarujá
- 163,1 mil m² no total;
- Pátio regulador: 73,4 mil m², com 417 vagas;
- Serviços de apoio logístico: 89,6 mil m².
Impactos para o Porto de Santos e o comércio exterior
A suspensão da licitação reacende o debate sobre o equilíbrio entre áreas operacionais e de apoio logístico dentro dos portos brasileiros. Enquanto projetos como o CLDM buscam melhorar o fluxo terrestre e reduzir gargalos urbanos, entidades do setor alertam para o risco de comprometer áreas estratégicas para expansão portuária, especialmente em um cenário de crescimento da demanda por contêineres.
O desfecho do caso poderá estabelecer precedentes importantes para futuras concessões e arrendamentos em áreas portuárias, com impactos diretos sobre investimentos, planejamento logístico e competitividade do comércio exterior brasileiro.